segunda-feira, 19 de abril de 2010





Casa 500 anos de História de Cabo Frio



Casa 500 anos de História de Cabo FrioEm uma iniciativa conjunta entre a Prefeitura e a Câmara Municipal de Cabo Frio, para as comemorações do 5º centenário do descobrimento da região pelo navegador Américo Vespúcio, em 1503, a Casa 500 anos foi inaugurada em 14 de agosto de 2003. A partir da sua abertura, o município mergulhou em incansável trabalho de resgate da sua memória e, além de vivenciar a história de Cabo Frio para as novas e futuras gerações, avançou em inovações ao incentivar, primordialmente, o turismo histórico-cultural.A Casa 500 anos desenvolveu, e continua desenvolvendo, atividades diversas, produzindo variados eventos culturais e construindo relações com todos os segmentos da sociedade, sempre em busca de parcerias e reforço ao propósito de buscar na história a tragetória do povo cabofriense.Em 6 anos de funcionamento, a casa registrou a presença de mais de 42.000 visitantes, recebendo cerca de 180 escolas públicas e particulares, de Cabo Frio e de outros municípios. Foram mais de 19.000 alunos vivenciando a história da cidade e 3.682 pessoas que participaram de mais de 50 cursos ( história, pré-história, teatro, dança, música, cinema/vídeo, fotografia, pintura, desenho, artesanato, acrobacia circense,etc.).Em seu interior a Casa 500 anos abriga importante acervo permanente, tais como maquetes de monumentos históricos de cidade (Conjunto Arquitetônico de Nª Sª do Anjos, Ponte Feliciano Sodré, Forte São Mateus, Salinas, etc.), fotos antigas e atuais de Cabo Frio, a exposição "A Construção Territorial do Brasil" e o "Descobrimento do Brasil" ( ambas trazidas de Portugal), acervo de arte popular, livros de atas da Câmara Municipal do Séc. XIX. No salão principal, em exposição até abril de 2010, encontram-se 17 painéis "Caminhos de Darwin" que contam a tragetória científica de Charles Darwin, pai da Teoria da Evolução das Espécies, inclusive da sua passagem por Cabo Frio em 1832. No salão anexo, encontramos caricaturas de personalidades da cidade, do caricaturista Caol e desenhos de Chico Dias, sobre o folclore de Cabo Frio.Na área externa, próximo ao salão principal, muito interessante é conhecer a exposição "O Grande Cabo Frio". São 2 banners que ilustram graficamente a Capitania Real de Cabo Frio, do início do século XVII, e seus desmembramentos que deram origem a 44 municípios de nosso estado.Para se ter uma idéia do que era Cabo Frio, a nível de extensão territorial, seu tamanho representava cerca de 50% do atual Estado do Rio. Com o tempo, "O Grande Cabo Frio" foi se fragmentando, dando origem à inúmeros outros municípios. Suas últimas e sentidas perdas foram Arraial do Cabo e Armação dos Búzios.Atualmente, a Casa 500 anos, tem vários cursos permanentes: violino, violão, violoncelo, sax, flauta(doce e transversa), desenho livre, pintura e ballet.Para saber muito mais sobre essa história, visite a Casa 500 anos. Ela funciona de quarta-feira a domingo, no horário de 14:00 às 18:00h.A "Casa" fica situada na Rua Coronel Ferreira, 141, no Portinho - Tels:(22) 2646-5973 e (22) 2620-1278.E-mail:
casa500anosdehistoriadecabofrio@hotmail.com orkut:casa500anosdecabofrio@gmail.comEvangelos PagalidisDiretor


A Pré–história na Região dos Lagos

A Pré-história da Região dos Lagos foi pesquisada por diversos arqueólogos brasileiros desde fins da década de 1950, concentrando-se principalmente nos sambaquis e os rochedos sulcados do Morro da Guia. Estudos recentes defendem que diversas populações indígenas que viveram durante um longo processo temporal ocuparam a região, os quais estavam bem adaptados ao ecossistema litorâneo e podem ser divididos em cinco períodos culturais. Em cada mudança sócio-cultural ocorreram migrações e invasões de novos grupos humanos conduzindo a lutas interpessoais e violência entre as tribos tradicionais versus as novas.
O povoamento original do Estado do Rio de Janeiro se iniciou por bandos de caçadores e recoletores que ocuparam tanto o extremo Norte Fluminense quanto da parte Sul. Tudo isso já ocorria há cerca de 10.000 anos atrás. As hipóteses tradicionais consideravam que os primeiros homens que ocuparam a região eram povos nômades bem adaptados a uma área de relevo movimentado de densa vegetação ou grupos de planaltos com cobertura vegetal de cerrado. Mas, os dados atuais revelam que foram bandos de sambaquis bem adaptados ao litoral carioca desde pelo menos 8.000 anos atrás. Sendo base desta subsistência a coleta de mariscos e moluscos generalizados e caçadores de fauna marinha.

OS SAMBAQUIS

No período Lítico I (6.000-4.200 a. C.), os sítios sambaquianos pré-cerâmicos da região estariam longe do litoral atual porque o nível marinho havia baixado quase 20 m, recuando o mar mais de 3 a 25 Km da orla atual. Contudo, os sítios sambaquis mais antigos do litoral centro meridional, como Camboinhas de Itaipu (7.958 + 224) e Itaboraí (8.100 + 75) estudadas por Lina Kneip na década de 80 e o Sambaqui de Maratuá (7.803 + 1.300), em São Paulo, incluindo o recente sítio descoberto de Sambaqui do Algodão em Angra dos Reis, se localizam neste período. Porém, tais evidências indicam a presença de grupos humanos na periferia da Região dos Lagos.
Durante o período Optimum Climaticum (6.000-3.000 a.C.), aconteceu, na região, diversas mudanças climáticas e geomorfológicas, chuvas torrenciais, fortes subidas do nível marinho, ventos rasantes, calor arrasador, formação de dunas, expansão da floresta, surgimento da Lagoa de Araruama, extinção da fauna pleistocênica, migrações humanas e aparição de doenças infecciosas e estresses pela adaptação biocultural. As teorias das primeiras ocupações culturais indicam duas possíveis rotas de chegada: uma através do litoral marinho e outra desde o interior da Serra do Mar. André Prous (1991) considerou que o povoamento do Rio de Janeiro haveria sido mais fácil com uma expansão do sul para o norte, em terras hoje submersas, de clima menos frio e maior possibilidade de provisionamento do grupo. Mas, os dados arqueológicos indicam que já existia uma preocupação cultural de sambaquis na periferia da região desde pelo menos 8.000 anos a.P.
Para entender o período Lítico II (4.200 – 2.200 a.C.) existem quatro hipóteses alternativas sobre as origens do povoamento humano para a Região dos Lagos, cuja essência defende a existência de um modelo de subsistência litorânea que já ocorria desde 8.000 anos a.P. para o Estado do Rio de Janeiro, principalmente de grupos sambaquis.Aquelas populações tinham uma economia baseada na coleta de recursos marinhos, o que serviu de sustento durante milênios, adaptando-se bio-culturalmente ao meio da costa Atlântica. Eles se dinamizavam desde o litoral ao interior segundo as estações do ano, em forma cíclica quando mudavam as condições ambientais. Aliás, o sustento do ambiente litorâneo sempre foi a principal fonte de proteínas em base de mariscos e peixes, complementado com a caça menor de anfíbios, répteis e aves marinhas.
A vida cotidiana de um sambaquiano desenvolveu-se nas praias, coletando basicamente conchas (Anomalocardia brasiliensis) e ostras. Os homens instalavam as choupanas, que eram choças pequenas e circulares de até 6m de diâmetro para abrigar uma família nuclear e localizadas sobre as dunas formando os sambaquis e proteger-se dos ventos do sul. Possuía canoas monóxilas beirando na enseada delimitada por pequenas elevações rochosas e semeada de ilhotas, subiam o curso do rio Itajurú até pontos aonde a água é doce na hora da maré baixa, exploravam os recursos aquáticos durante vários milênios caçando araras, papagaios, macacos, répteis, antas e porcos do mato. As mulheres locomoviam-se às restingas para coletar frutos, folhas, lenhas e raízes para complementar sua dieta. A água doce era armazenada em potes de cabaça. As crianças brincavam no mangue e coletavam crustáceos, conchas e ovos de tartarugas. No entanto, as mulheres cozinhavam os peixes semicrus e condimentados de sal grosso e pimenta.
Alguns enterramentos humanos primários exibem oferendas de conchas e corante vermelho, quiçá urucum, pingentes de conchas e colares de vértebras de peixes. Nos sítios de Arraial do Cabo foram localizados sepultamentos em posição fetal, sentados em pequenas covas cônicas, fortemente tingidas de ocre, com acompanhamento funerário de artefatos líticos e objetos de adornos feitos sobre ossos e dentes. Também elaboravam ritos de cremação como nos enterros de Moa, Pontinha e Beirada, em Saquarema, onde os mortos eram decorados com pintura facial e corporal , adornados com colares de dentes de animais e sementes. Também colocavam objetos de pedra como almofarizes e machados. É possível inferir que haveria um culto aos mortos, cujos espíritos os protegiam das chuvas torrenciais, calamidades, pragas e doenças. Enfim, os sambaquianos eram sedentários, soberanos da costa e ocuparam principalmente a mata litorânea.


A CULTURA ARARUAMA (TRADIÇÃO ITAIPU)

Esta nova etapa cultural perdurou entre 2.200 a.C. – 1 d.C., se estendeu na região, basicamente nos municípios de Cabo Frio, São Pedro d’Aldeia e Búzios, durante o período conhecido como Arcaico. Este período se caracterizava pela introdução da horticultura na região, principalmente da mandioca, incremento demográfico e ausência de cerâmica. Ademais, surgiram os almoxarifes, batedores, bigornas e moedores, indicadores de um consumo permanente de plantas e preparação de farinha.

Em 1962, Ondemar Dias Jr. publicou a presença de diversos montículos litorâneos em Cabo Frio e Arraial do Cabo que tinham semelhanças com o famoso sítio arqueológico de Sambaqui de Itaipu, localizado na praia de Niterói, formulando a famosa hipótese da fase Itaipu que foram englobadas no período Arcaico e admitiu que as primeiras populações humanas da Região dos Lagos procediam do interior, das serras do Rio de Janeiro. Refere que a fase Itaipu A, conformada pelos sítios Corondó, Malhada e Angelim, entre Cabo Frio, São Pedro d’Aldeia e Búzios, constituíam centros de populações humanas que estavam bem adaptadas num ambiente lacustre e de restingas. Aliás, nesse momento o nível marinho havia subido 2m acima do atual, favorecendo a inundação do pântano da Malhada e do ingresso de cardumes e baleias que atingiu até Campos Novos, todo rodeado de mata Atlântica.
Os sítios de Corondó, localizado em São Pedro d‘Aldeia, e Malhada, em Cabo Frio, possuem uma antiguidade de 2.300 a 1.000 a.C. e contêm cemitérios indígenas pertencentes a tribos horticultores de mandioca e sem cerâmica, contemporâneos com sítios de pescadores dos sambaquis do litoral cabofriense. Nesse período, a zona era rica em peixes lacustres, aves marinhas, anfíbios, mamíferos e répteis. Localizava-se dentro de uma extensa mata Atlântica. Muitos peixes podiam ser apanhados com as mãos. Constatando uma alteração de padrões de subsistência como o aumento de consumo de moluscos, principalmente berbigão, e diminuição do tamanho dos peixes (pescada, bagre, corvina, miraguaia) e complementado por aves e mamíferos. A indústria lítica decaiu e surgiu uma exuberante indústria sobre osso e concha. Nos sambaquis, a base de sobrevivência muda sensivelmente, passando a um consumo generalizado de muitas espécies de moluscos, principalmente de espécies jovens. A indústria sobre osso e concha perde importância, surgindo uma abundante produção sobre lascas de quartzo hialino. Aqueles sítios-sobre-dunas localizavam-se em praias de mar aberto, onde a existência de morros cristalinos impõe uma curvatura mais acentuada ao litoral, onde a ressurgência marítima ocorria com maior intensidade. Favorecendo a intensa proliferação de plâncton, gerando uma cadeia trófica de numerosas espécies marinhas e acabando por transformar tais áreas em viveiros naturais, onde a pesca e a coleta de moluscos ficava extremamente facilitada.
Sobre as relações sociais entre os sambaquis e os Araruama (Itaipu) existem dúvidas enquanto a sua posição cronológica. Mas, para nós aqueles homens seriam descendentes dos mesmos sambaquianos do litoral, ora mais adaptados ao ambiente lacustre onde experimentaram a domesticação da mandioca (carboidrato) que serviam num início de complemento a abundante dieta de proteínas marinhas. Os primeiros confrontos violentos entre ambos os grupos começaram por volta de 2.000 anos a.C. Tribos de horticultores Itaipu que conviveram com grupos sambaquianos tiveram pressões de seleção e contato cultural. Os estudos paleopatológicos realizados no sítio do Corondó (2.250 – 1.150 a.C.) demonstram maior freqüência de lesões traumáticas, predominando as fraturas causadas por tensão, compressão e torção, algumas como conseqüência de quedas (fraturas de Colles), principalmente entre as mulheres, e outras provavelmente por golpes diretos causando infecções posteriores, notadamente entre os homens. Aquelas lesões traumáticas são indicadores de ações violentas que permitem a comparação entre populações. Este fenômeno biocultural ocorreu entre fins do período Lítico II e o início da fase Itaipu, provavelmente entre os recoletores-sambaquis e os horticultores-Araruama. Aliás, Tânia Andrade Lima, em 1995, indicou que os pescadores das ilhas do litoral do Rio de Janeiro, como na Baía da Ribeira, em Angra dos Reis, e na ilha de Santana, em Macaé, ocupados durante esse período, sofreram pressões sociais desvantajosas.

A SOCIEDADE UNA

Durante os primeiros séculos de nossa era surgem os grupos Una, que eram tribos aguerridas de horticultores e ceramistas, ocupando progressivamente o litoral. Este período cultural chama-se Formativo (1 – 700 d.C.). Sua origem parece ter ocorrido no território do norte mineiro e Goiás Meridional. Nos sítios de Monte Carmo, em Goiás, com datação de 3.800 a.P. (1.850 a.C.) e Lapa do Gentio, perto de Unaí, MG, e datado de 3.490 a.P. (1.540 a.C.). Em ambos os sítios, a cerâmica apresenta um antiplástico de fibras vegetais chamado “cariapé”. Tais povos se distribuíam numa vasta região brasileira que incluía os Estados da Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Pernambuco. O milho parece estar presente em Gentio, junto com o amendoim, cabaça, feijão, jatobá e coquinhos, associados a sepultamentos em covas. Não foram encontrados sinais de caça nem de pesca, o que indica que eram povos basicamente agricultores.
Na região de Cabo Frio, as tribos Una começaram a chegar, subindo o curso do rio São Francisco e do rio Grande até alcançar as cabeceiras da Serra do Mar e daí descer a vertente Atlântica, concentrando-se nas beiras dos rios Una e São João. Nos vales dos rios Una e São João, eles cultivavam milho e feijão e por vezes complementada por mandioca para fabricação de farinha e parece não haver sido cultivado a mandioca-amarga. Alguns arqueólogos indicam que esta ocupação ocorreu em torno do século V de nossa era e admitem, aliás, que a chegada da cerâmica Una não implicou nenhuma mudança na economia regional e cuja introdução na Região dos Lagos foi pacífica nos grupos litorâneos Itaipu. Mas, observando as ossadas humanas podemos perceber violências interpessoais. Sua cerâmica também está presente nas camadas superiores dos sítios Corondó, Malhada e os sambaquis de Araruama. Provavelmente, caracterizando o momento em que grupos do período Formativo introduziram a tecnologia da cerâmica e a agricultura incipiente.
Estas populações humanas tinham dentes em forma de pá, indicador de descendência do tronco asiático oriental ou mongolóide, próprio das tribos amazônicas. Sua vida média era de 35 anos de idade. A estatura média era de 1.55-56 m para os homens e de 1.46 m para as mulheres (estatura baixa). No entanto, os Una de Minas Gerais tinham uma estatura maior, de 1.62 m para os homens e 1.50 m para as mulheres. Esta queda de estatura é um indicador de adaptação a um clima úmido e frio que lhes permitia manter o calor corporal tal como os povos altoandinos e do Himalaia. No entanto, a craniometria nos esqueletos do sítio de Massambaba, no Arraial do Cabo, revelou que tinham o tipo mesocrânio, produto de miscigenação com grupos locais.
Sua cerâmica está caracterizada por ser de pasta negra, com vasilhames pequenos (diâmetro máximo, no bojo, de 25 cm), globulares, cônicos e piriformes, de abertura constrita com um pequeno gargalo. Os sítios cariocas formam duas fases: a primeira “Una", pouco pesquisada na região, apesar de ter dado nome a uma tradição tão ampla pelo sítio original do rio Una, ocupando uma área de 5 Km de diâmetro no litoral. A outra fase, “Mucuri”, melhor estudada, parece não haver desenvolvido sua economia de uma exploração dos recursos marítimos, ficando no contato entre a planície litorânea e a encosta da Serra do Mar. Das quase vinte jazidas registradas pelo Instituto de Arqueologia Brasileira, somente cinco são de habitação, todas ocupando o fundo de vales; enquanto as outras são lugares de sepultamento: abrigos de encosta meia e grutas já na região das escarpas.
Esta fase perdurou até o advento dos europeus, sendo correlacionada, de forma tentativa, aos Goitacás. Embora a olaria pareça estar associada a um novo padrão de organização das aldeias da região, principalmente casas ao ar livre e enterramentos-sob-rochas. Esses esconderijos geralmente aparecem a 200 m ou mais acima do nível do vale, marcam uma clara separação entre o mundo dos vivos (embaixo) e dos mortos (em cima). Os ossos estão depositados dentro de pequenas urnas funerárias. Estas cerâmicas tem a forma do fruto “sagrado” da sapucaia (Lecythis olaria), uma árvore do país dos mortos, na crença dos índios Puris da região. Às vezes, estão depositadas com ocre-vermelho ou urucum (Bixa orellana), tabaco e tomates silvestres. Eram enterramentos secundários constituídos por ossos fragmentados, misturados e incompletos. Os poucos enterramentos primários estão em posição de semiflexão e pintados de cor rosada. Junto aos esqueletos também aparecem inúmeros adornos: contas de osso de aves, contas vegetais feitas de grãos de capim-navalha, alternando Com grãos pretos e ossinhos, dentes caninos de macacos, anéis e pingentes feitos de casca de caramujos gigantes da família Strophocheilidae.

Tinham cestos, colares e pulseiras, enfiados em quádruplos cordões, feitos de sementes, de dentes de mamíferos ou de pequenas conchas perfuradas. Possuíam tortuais de fuso de cerâmica indicando a fabricação de tecidos, confirmada pelos achados de algodão (Gossypium bardadense). Fabricavam pequenas redes de algodão (tipóias) que eram feitas por meio de técnicas semelhantes às de cestaria, espiralada com fio tecido, ou espiralada com a única nappe. Também tinham cabaças provavelmente, para cantil, ou uso como pequena bolsa, e aparecem varas de cerne de coqueiro, que talvez servissem de “bastão de comando”. As lascas cortantes de quartzo da cultura Araruama foram substituídas por fibra vegetal de taquara ou saquara, mostrando uma adaptação mais completa à floresta.
Algumas ossadas de enterramentos secundários, descarnados e cremados, evidenciam marcas de mordedura humana. Isto faz crer que eles praticavam a antropofagia ritual. Os estudos paleopatológicos indicam que os homens tinham maior desgaste nos cotovelos, quiçá por uso freqüente de lanças e machados de limpeza das roças, no entanto, as mulheres apresentavam desgastes nos joelhos e maior osteofitose das vértebras lombares que seria um indicador pela atividade da agricultura. Sofriam de espondiloartrose e osteofitose vertebral, além de cáries dentárias (14%), cistos e granulomas, produto de atividades agrícolas e elevado consumo de carboidratos e de amido. A ocorrência de facetas supranumerárias nas tíbias sugere que os indivíduos praticavam a posição de cócoras ou ficavam freqüentemente ajoelhados. Predominam as do corpo do externo (problemas congênitos) por serem grupos endógamos.
Sobre a vida religiosa e espiritual dos Una podemos aproximar-nos com o estado dos petróglifos do Morro da Guia, construídos durante esse período. Um enterramento coletivo, ocorrido no século XI d.C., era um cemitério da fase Una e início dos Tupiguarani, e pelo alto índice de fraturas cranianas, foi inferido ser conseqüência de atividades guerreiras, confirmando a hipótese que os Una foram invadidos pelos Tupinambás.

OS TUPINAMBÁS *

A chegada de grupos guerreiros de língua Tupi-guarani, mais conhecidos como Tupinambás, à região de Cabo Frio marcou um período de conflitos sociais frente os Una pelo controle econômico da Lagoa de Araruama, do centro religioso do Morro da Guia e seus diversos recursos ecológicos. Este fenômeno pré-histórico ocorreu entre 700-1.400 d.C., aproximadamente.
Segundo os cronistas portugueses, os Tupiguaranis eram consideradas as populações nativas “mais evoluídas” do litoral brasileiro pelo que formavam uma grande confederação que chamaremos de chefia. Um nível incipiente de Estado. A cerâmica Tupiguarani se caracteriza por sua policromia sobre fundo engobado branco. Pela ampla distribuição desta cerâmica, pode-se acreditar ter sido uma tradição pan-brasileira, que consideramos ser um horizonte cultural que se originou na Amazônia e se estendeu por todo o litoral brasileiro.
Donald Lathrap e os Evans sustentaram a hipótese de que o centro original devia ser procurado na Amazônia brasileira, indicando que sua expansão começou a ocorrer há 2.800-2.500 a.P. Eles admitem também que as sete famílias do grande tronco Tupi foramde origem amazônica e uma delas emigrou para o sul, alcançando e fusionando-se com os Guaranis, habitantes do Paraguai , formando os Tupiguarani que há 1.000 d.C. começaram a ocupar o litoral brasileiro do sul e central, atingindo a região de Cabo Frio e dominando aos Una.

* A distribuição do tronco lingüístico Tupi é ampla, abarcando um conjunto de tribos do Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru e Uruguai. Assim, o termo “Tupi-guarani” (com hífen) reúne os grupos Guaranis da Bacia de La Plata e nos vales dos rios Uruguai e Paraná, e os grupos Tupis do litoral carioca ou maranhense, chamados tupiniquins e tupinambás. Enquanto, “Tupiguarani” (sem hífen) constituem os achados arqueológicos dos grupos conhecidos etnograficamente. Muitos arqueólogos defendem que os tupiguarani se caracterizavam pela cerâmica policroma e corrugada, contudo, vários grupos tupiguarani não tinham cerâmica na época histórica ou correspondiam a grupos diferentes como os Tapirapé, Mundurucu e os Guayaqui (Prous, 1992).

Há cerca de 1.000 d.C. (ou 970 a.P.), a tradição Tupiguarani chegou no Estado do Rio de Janeiro pelo curso do rio Paraíba do Sul, fixando-se principalmente ao longo do litoral. Assim, os Una foram desplazados à região de Campos e os Tupiguarani permaneceram até o contato com o europeu, do qual sofreram influências culturais que darão origem a numerosas fases neobrasileiras do Rio de Janeiro, que testemunharam este processo aculturativo e de extermínio da população indígena. Um grande sítio Tupiguarani desta região, ocupado entre 1.000-1.500 d.C., está localizado na Estação de Rádio da Marinha (224.01.50), cujos níveis inferiores foram achadas uma ocupação tipicamente tupiguarani. Buarque (2002) registrou vários sítios deste período na região de Araruama, como a aldeia de Morro Grande, Sítio São José, Serrano e Condomínio Jardim Bela Vista, indicando o avançado processo de destruição.
As aldeias Tupinambás encontravam-se tanto nas imediações do mar, quanto nos morros interioranos que antecedem a Serra do Mar. Hans Staden (1555), descreveu que as aldeias podiam encontrar-se esparsas, a pequena distância umas das outras: Seis milhas, quatro léguas, etc., os índios moravam na estrutura comunal ou maloca e saíam por curtos períodos durante a pesca ou guerra, período em que a população podia se dividir. As aldeias eram fortificadas, mas somente nas zonas fronteriças de tribos inimigas. As muralhas eram feitas de troncos de árvores ou paliçadas de paus da altura de um homem, com seteiras (no litoral) e de terra que atingiam de 2 ou 2.5m de altura (na Floresta Amazônica). Estas seteiras serviam para defender-se de povos invasores. No caso de sitiar uma aldeia, os agressores fechavam todo o contorno, colocando uma cerca com vegetais espinhosos.
As casas tinham plantas oblongas, retangulares e circulares devido a funções diferentes como lugares de moradia, de armazenagem, de reuniões e prisões. Era uma sociedade tipicamente adaptada à floresta tropical em perpétua migração por causas ideológicas, principalmente por canoas fluviais e marítimas. Eles costumavam morar em área de floresta fechada, tanto da região litorânea como da fluvial, construindo suas malocas ou ocas desde o nível do mar até os400m de altitude, procurando planícies e áreas próximas à água doce e não gostavam da gelada noturna nem de áreas secas. Os sítios também ocupam a parte superior da encosta dos morros que dominam um rio principal navegável, geralmente nas imediações das aldeias passavam um córrego ou um canal que fornecia água doce. O rio principal costumava distar várias centenas de metros até 1 Km. Como exemplo, podemos mencionar as aldeias dos rios Taquara, Paranapanema, São João e Una. Sua economia de subsistência se baseia na agricultura de mandioca, através da técnica da coivara, roça e queima ou “slash-burn”. Portanto, os sítios arqueológicos localizam-se perto dos rios navegáveis e das porções superiores dos cultivos temporários, onde acumularam terra preta e cacos de cerâmica. Eram expertos nadadores, guerreiros e mergulhadores.
Eles gozavam de um bom estado de saúde, eram indivíduos fortes, sadios e bem adaptados aos trópicos. A alimentação dos Tupinambás era variada, comiam de tudo, do piolho à onça, do jacaré a outro índio inimigo, assim como plantas cultivadas, peixes, crustáceos, mariscos, tartarugas e mel, portanto rica em vitaminas, proteínas e grassas, condições essenciais de boa nutrição e que explicam a linha física, a permanência na saúde e a agilidade de seus movimentos. Não eram indivíduos gordos, tinham corpo esguio e forte, alegres, membros bem proporcionados, enxuto de músculos. Seu apetite não conhecia limites. Tinham hábitos higiênicos bem desenvolvidos, desfrutavam do clima tropical agradável e farta alimentação provida pela caça, pesca e coleta sistemática.
Tinham várias doenças enteroparasitárias, amarelão, opilão e desinterias, também as hipoplasias do esmalte dentário indicavam estados de anemias, elevado grau de cárie dentária, e doenças degenerativas na coluna vertebral, osteomielites por infecções estafilocócicas ou estreptocócicas, assim como freqüentes infecções das cavidades pneumatizadas dos ossos da face, seios maxilares, paranasais e e frontais, principalmente, associando-se a penetração de microorganismos virulentos, causando deficiência de drenagem das secreções, afonia, epistaxe e ferimentos muco-sanguinolentos ou muco-purulentos, inferindo tratar-se claramente de leishmaniose mucosa (25% do material estudado), além de infecções por tungíase.
A freqüente preparação da bebida alcoólica de cauim a base de mandioca, produziu uma elevada abrasão dentária, principalmente dos incisivos, já que a mastigação da casca e a saliva que seria de fermento era a forma típica de preparar a bebida. Esta tradição provinha desde tempos Itaipu. A osteofitose vertebral dos graus I e II, tanto na coluna cervical como lombar, e calcificações nas áreas de inserção de ligamentos e bainhas articulares de adultos, indicando dois padrões diferentes, o estresse por atividade de transporte, carregando o peso na cabeça ou pendurada dela produz a osteofitose da coluna cervical. No entanto, as freqüentes atividades de semeia e de coleta de mandioca, através da técnica da coivara, produzia a osteofitose da coluna lombar. Em comparação com os sambaquis, existe uma maior incidência de 10% de osteofitose vertebral.
Segundo Métraux (1929), os Tupinambás tinham um profundo sentimento da força orientada a luta, preso ao encanto, ao colorido marcial da guerra. Tinham profundo orgulho de seu valor militar, no que se diferenciava dos outros povos, por eles combatidos e afastados das suas terras como os Una, a fase Mucuri e os Goitacás. A conquista de novos territórios tropicais pelos tupiguarani foi lenta e gradual. Este fato histórico se deveu pela presença de guerreiros que eram espertos navegadores fluviais. Esta expansão cultural e social era impulsionada por questões religiosas e ideológicas, ainda durante o século XVI, continuavam aqueles intensos movimentos sociais.
Finalmente, os Tupiguarani lograram conquistar novas terras por três fatores principais: aldeias, acampamentos e peabirus (extensos caminhos antigos). Acrescentam, ainda, que para o melhor domínio das áreas conquistadas, além da aldeia central, estabelecida junto à orla marítima ou nos morros em forma de meia laranja com visão de 360º da linha horizontal, antes de ser uma preocupação defensiva, tinha que se usar meios ofensivos. Em Cabo Frio, existiam duas grandes aldeias tupiguarani: uma no bairro da Passagem, onde foi construída a antiga praça e a Igreja de São Benedito, e outra, no campo de futebol por trás do Morro da Guia e próximo à Comunidade do Itajurú.

Texto: Prof. Dr. Alfredo J. Altamirano
Fotos: Evangelos Pagalidis
Iconografias: Hans Staden - 1555

sábado, 17 de abril de 2010















AS PEDRAS SULCADAS DO MORRO DA GUIA
(Em busca da verdade científica)


No século XVI, quando os primeiros europeus aqui desembarcaram, já ouviram dos índios as aventuras do Sumé e as pedras sulcadas do Morro do Tairú. A lenda é um dos mais importantes subsídios para explicar a origem do homem pré-colombiano.
O antropólogo francês André Metraux, diz que Sumé vivia com sua família em outras paragens e após gerar os gêmeos míticos Tamendonare e Aricoute, o Bem e o Mal, abandonou a família e foi viver no Cabo Frio, onde era conhecido pela feitiçaria e arte de vidência.
Certa vez, os índios perseguiram-no por diversas praias. Conta a lenda, que as flechas arremessadas davam a volta e cravavam no inimigo. Sumé continuou a fuga, até finalmente ser encurralado. Num gesto inesperado feito um “Moisés bíblico”, abre o mar e foge de seus opositores.
Morava numa câmara de pedras, que até hoje existe no flanco sul do Morro da Guia. No alto da colina, voltado para o nordeste, encabeçando o conjunto de blocos sulcados, esculpiu uma cadeira, na dura pedra. Existem sinais da sua passagem pela Paraíba, Bahia e Cabo Frio.
André Thevet, em 1555, e Simão de Vasconcellos, em 1663, foram os primeiros a fazerem referências às pedras sulcadas. Saint Hilaire, em 1818, desfrutou do mais belo panorama durante suas viagens, chegando a afirmar.: “Dele se descobre o mar e os navios que passam no oceano, onde algumas vezes sobem os religiosos por divertimento e para mostrar os penedos sulcados”. O célebre naturalista Charles Darwin, autor de “A origem das espécies”, também esteve em pesquisas no local, no ano de 1836.
Ladislau Netto, em 1881, provavelmente foi o primeiro a levantar a hipótese de que os sulcos eram polidores líticos fixos: “Tive em 1881, ocasião de verificar no alto do Morro da Guia, a menos de 2 quilômetros da cidade de Cabo Frio, o modo porque se serviam os indígenas dos fragmentos caídos dos penedos de diorito que formam a aresta denticulada daquela montanha. Os referidos penedos ou penhascos apresentam, em diferentes sentidos, sulcos que, examinados atentamente, indicam haver sido feitos por indivíduos que, ajoelhados ou acocorados sobre a face superior dos rochedos, ali desbastavam os fragmentos de diorito de que faziam machados. A água e areia eram os únicos elementos de que se socorriam para esta operação”.
Simões da Silva, em 1917, afirmou que o sítio era formado por 10 blocos de pedras, mas hoje restam somente 7. Existiam na época da sua visita, 184 sulcos, produzidos por fricção, dos quais 168 eram retos e apenas 16 curvos, medindo de 20cm a 120cm, e com as mesmas profundidades. O pesquisador, também aceita a idéia de que se tratava de polidores fixo.
Dias Jr., em 1959, encampou a mesma teoria, datando o sítio como da época neolítica. O antropólogo Joaquim Perfeito da Silva, em 1978, reproduziu em papel vegetal todas as ranhuras, e levantou algumas questões que colocam dúvidas sobre a teoria dos polidores fixos:
"1) Os sulcos só ocorrem nos blocos aproximadamente alinhados no sentido NE – SW, do alto do morro ao sopé, nunca em outros blocos das redondezas, que apresentam as mesmas características de superfície, para efetuar-se a operação de se produzir sulcos.
2) Nos blocos, os sulcos apresentam-se em 70% dos casos, com o mesmo alinhamento NE – SW, freqüência muito superior ao que seria de se esperar caso as orientações escolhidas fossem aleatórias.
3) A seção transversal dos sulcos é em meia cana, em forma de “U” com a largura igual a profundidade, que varia de 2 a 3 cm. Comprova-se experimentalmente que, para obter um gume polido, é necessário atritar o gume em posição transversal ao eixo do atrito, neste caso estes sulcos seriam utilizados para obter artefatos com gumes polidos de largura inferior aos 3 cm, e em forma de cone, os quais nunca foram encontrados. Os polidores “móveis” dos sambaquis, por exemplo, apresentam larguras rigorosamente compatíveis com as larguras das Supondo-se que neste caso os artefatos tivessem sido mantidos com o gume no mesmo sentido do eixo de atrito, deveriam produzir sulcos em forma de “V”, o que não ocorre. Com tal processo e considerando-se os sulcos resultantes, teriam sido obtidos artefatos com gumes arredondados.
4) Observa-se nos polidores líticos “móveis” que os sulcos sempre são mais profundos em sua porção central, o que não ocorre nos sulcos do Morro da Guia que apresentam, praticamente, a mesma profundidade em todo o trajeto.
5) Existem numerosos sulcos, retos, com 80 cm a 120 cm de comprimento, extensão muito superior àquela permitida ao braço humano neste tipo de operação (flexão-extensão do braço sobre o antebraço e rotação do ombro), salvo com grande esforço e postura inadequada.
6) Tomando-se a extensão de todos os sulcos, obtém-se mais de 100 m, o que implica em grande número de operadores ou um período muito longo de uso. No entanto, a semelhança da maior parte dos sítios petróglifos brasileiros, nenhum autor registrou o achado de artefatos líticos (ou quaisquer outras evidências culturais) nas proximidades;
7) Na região ocorrem formações graníticas, normalmente próximas à sítios arqueológicos e ao mar, que apresentam sulcos claramente vistos como resultados do trabalho de polimento de ferramentas para se obter gumes (mais largos e profundidade variável), com cumprimentos não superiores a 25 cm, perfeitamente coerente com suas funções de servir de base para polir”.
O arqueólogo peruano radicado em Cabo Frio, Alfredo J. Altamirano, em recentes pesquisas no local, afirma que o sítio é formado por petróglifos ligados a rituais de agricultura e pesca, com função mágico-religiosa e entendido dentro de um sistema sócio-cultural Xamãnico. Este sistema dominava a ideologia do índio Tupinambá, e para ele, os sulcos e suas orientações estavam integrados e ordenados num sistema simbólico nativo. Os deuses (Tupã, jaci, Coaraci e Rudá) eram invocados no topo do morro, onde encenavam diversos rituais e oráculos neste centro místico e religioso.
Polidores líticos fixos ? Petróglífos representando rituais de agricultura e pesca ? Sinalizações astronômicas feitas por um ser lendário, vindo de uma cultura mais avançada ?
Muitos séculos se passaram, muitos pesquisadores subiram o Outeiro do Tairú em busca da verdade científica, e hoje ao comemorarmos 500 anos de história, temos também, um pé na pré-história, e a única certeza que trazemos é a de que as pedras sulcadas do Morro da Guia continuam envolta numa neblina de beleza e mistério.

Texto: Clébio Gonçalves




quinta-feira, 15 de abril de 2010


MARCO DA FEITORIA



O Morro do Arpoador, na Boca da Barra, é defendido por importantes historiadores como o ponto em que o navegador Américo Vespúcio aportou e instalou a primeira fortaleza-feitoria portuguesa no Brasil, em 1503. No local, também foi instalada pelos franceses a Casa de Pedra para o contrabando de Pau-brasil, até 1615, quando Constantino de Meneláu fundou a cidade de Cabo Frio em 13 de novembro no mesmo ano, acabando com a pirataria na região.
Em 2003, dentro do festejos das comemorações dos 500 anos de história de Cabo Frio, o Poder Público Municipal revitaliza o local, transformando-o em importante marco histórico para os munícipes e visitantes de nossa cidade.
“Tratam-se da fortaleza-feitoria portuguesa do Brasil (1503-c.1512), construída por Américo Vespúcio e destruída por grupo local indígena Tupinambá; da “Casa da Pedra” francesa (1556-1575), construída pelos armadores da cidade de Rouen e destruída pela tropa luso-Tupiniquim do governador fluminense Antônio de Salema; da fugaz fortaleza-feitoria inglesa (1615), construída por armadores londrinos e destruída pela tropa Luso-Tupiniquim do governador fluminense Constantino Meneláu; e da fortaleza portuguesa de Santo Inácio (1615-c.1620), construída por ordem do rei Felipe II de Portugal ou Felipe III da Espanha, possivelmente, também, sede da cidade de Santa Helena de Cabo Frio (1615-1616).” ( Márcio Werneck da Cunha,2004).







FORTE SÃO MATEUS

Em 1615, o Capitão - Mor Constantino de Meneláu, recebeu ordens do Governador Geral da Bahia, Gaspar de Souza, para combater os ingleses que frequentavam o litoral de Cabo Frio. A expulsão acontece e é estabelecida a povoação de Santa Helena, e erguido o Forte de Santo Inácio no lugar da “Casa de Pedra” – inicialmente, uma fortaleza francesa instalada no Morro do Arpoador, na boca da barra da Lagoa de Araruama, no século XVI, onde, posteriormente, se alojam os ingleses.
Respondendo a uma consulta Real sobre a melhor maneira de se fortificar Cabo Frio, Martin de Sá – Governador do Rio de Janeiro – conclui ser necessário desfazer o forte existente (Santo Inácio) por ser fácil de ser tomado por naus inimigas.
Projetado pelo engenheiro espanhol Francisco Frias de Mesquita e sob o comando do já empossado primeiro capitão - mor de Cabo Frio, Estevão Gomes, em 1620, verifica-se a conclusão da nova fortaleza, na carta enviada ao governador do Brasil pelo jesuíta superior da Aldeia dos Índios de São Pedro.
No mapa da terra de Cabo Frio (autor anônimo, c. 1625), pode ser observado a localização do forte velho, Santo Inácio, e a do forte novo, São Mateus, mais próximo à enseada da praia.
Em 1648, o Forte São Mateus encontrava-se abandonado e a cidade de Cabo Frio não passava de 2 dúzias de moradores (Alberto Lamego – o Homem e a Restinga).
O Forte possuía canhões dos mais variados calibres: um de 12 polegadas, quatro de 6 polegadas e dois de 8 polegadas. No século XVIII, a fortificação estava guarnecida por uma tropa auxiliar composta de um superior e 7 soldados, sendo que destes, um era de cavalaria, e todos sujeitos às ordens do oficial do terço de regimento de milícia em Cabo Frio (Abel Beranger).
Em 1818, era guardado por 6 soldados de milícia que se renovavam de 15 em 15 dias e eram comandados por um Cabo, que era obrigado a dar aviso ao Coronel do distrito da entrada e saída de embarcações que passavam pela boca da barra (Saint-Hilaire). Em 1899, o Forte tornou-se lazareto recolhendo doentes portadores de varíola.
Em ruínas, o Forte é restaurado por Adail Bento Costa em 1956 - 1957.
A Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), tombou o Forte São Mateus em 30/11/1977. A certidão de tombamento é o ofício de no. 38 de 06/03/1978.
Atualmente, o Forte São Mateus encontra - se aberto à visitação pública e em suas dependências promovem - se exposições temporárias.







CONJUNTO ARQUITETÔNICO DE NOSSA SENHORA DOS ANJOS, IGREJA, CEMITÉRIO DA ORDEM 3ª. E CAPELA NOSSA DE NOSSA SENHORA DA GUIA



Após a fundação da cidade de Cabo Frio em 1615, por Constantino de Meneláu, Estevão Gomes foi nomeado como 1º Capitão-Mor, com plenos poderes de doar Sesmarias a quem desejasse povoar e plantar na região.
Recebendo uma petição dos primeiros habitantes em 01 de abril de 1617, que solicitava autorização para a fundação de um Convento pelos Franciscanos, Estevão Gomes deu o seguinte despacho no mesmo dia:

“Dou aos reverendos padres os chãos que pedem os moradores na sua petição, os quais chãos lhes dou em nome de sua majestade nesta cidade da Assunção de Cabo Frio, hoje o primeiro do mês de abril de mil seiscentos e (dez e) sete anos ----- Estevão Gomes.”

Somente em abril de 1684, Frei Agostinho da Conceição, que abraçou a causa dos moradores, despachou dois irmãos sacerdotes para a região, com o objetivo de reunir material para as obras. Com o apoio de José de Barcelos Machado, rico fazendeiro, deu-se o início da construção. O acordo entre as partes era a doação anual de 35 bois, e, em troca, que fosse rezada todos os dias uma ladainha e um responso. Este legado continuou mesmo após a sua morte, até o ano de 1852.
A pedra fundamental foi colocada em 02 de agosto de 1686 e a inauguração oficial ocorreu em 13 de janeiro de 1696, com a presença do provincial Frei Cristóvão da Madre de Deus, quando deu posse ao primeiro Guardião Frei Serafino da Santa Rosa.
A Igreja possuía um altar-mor provisório para a padroeira, como também para as imagens de São José e de São Joaquim, ambas de estilo barroco, e com 1.20 m de altura; e dois altares laterais, um para a imagem de São Francisco e outro para Santo Antônio. Há ainda as imagens de Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora de Sant’Ana e São Luís de Tolosa. Quadrangular, com pequeno claustro no centro de onde saía um corredor aberto (varanda), o Convento, segundo o Estatuto da Fundação, abrigava 14 religiosos. Em 1730, eram 24 e, em 1765, 30, dos quais 18 sacerdotes, 8 coristas, 2 leigos e 2 donatos.
No outeiro, antigamente chamado de Tairú, vê-se a capela de Nossa Senhora da Guia, pertencente ao Convento, que foi construída em 1740, por ordem da Câmara Municipal. O botânico Augustin de Saint-Hilaire desfrutou o mais belo panorama durante suas viagens, em 1818, chegando a afirmar:

“Dele se descobre o mar e os navios que passam no oceano, onde algumas vezes sobem os religiosos por divertimento e para mostrar os penedos sulcados.”
Saint-Hilaire, 1818

A Ordem Terceira de São Francisco de Assis encontra-se anexa ao Convento. No altar-mor está a imagem de Cristo em tamanho natural e a de São Francisco recebendo suas chagas. Ao lado da Ordem, o Cemitério Franciscano.
A partir do final do século XVIII, o número de frades diminuiu. No século XIX, o último Guardião do Convento foi Frei Vitorino de Santa Felicidade, que nele permaneceu até sua morte em 1872. Desde então, o Convento entrou em processo de ruína: mobílias e livros foram destruídos. Em 1898, uma explosão no depósito de pólvora destruiu parte do Convento, por ocasião da obra da primeira ponte sobre o canal do Itajuru: a Ponte de Ferro.
No século XX, foi instalado ao lado da Capela, um Posto Meteorológico, que tinha a função de alertar os navios das condições climáticas, por sinais codificados através de bandeiras que eram hasteadas como sinalizadores em uma torre metálica de 12 metros de altura.
Em 30 de novembro de 1937, através do Decreto-Lei n° 25, o Convento, a Igreja de Nossa Senhora dos Anjos e o Cruzeiro em frente, foram tombados pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em 1950, o Convento é parcialmente restaurado pelo IPHAN. Em 1958, foram incluídos no tombamento, a Capela de Nossa Senhora da Guia, o Cemitério da Ordem Terceira de São Francisco, estendendo-se ao adro e toda a área atualmente livre em frente ao convento, incluindo o Largo de Santo Antônio e o Morro da Guia, com fachada de proteção na planície no entorno de 100 metros.
Em 12 de março de 1968, foi assinado um convênio entre o Arcebispo de Niterói e a então Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Ministério da Educação e Cultura, para a instalação de um museu de arte religiosa e tradicional nas dependências do Convento.
O Museu foi inaugurado em 15 de dezembro de 1982, as imagens sacras foram restauradas e postas em exposição permanente. Atualmente, realizam-se no Museu, exposições de artes plásticas e fotografias, além de abrigar o Escritório Técnico da 6ª Diretoria Regional do IPHAN de Cabo Frio, Arraial do Cabo, Armação de Búzios, Iguaba Grande e Araruama.











IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO





A fundação da cidade de Cabo Frio, propriamente dita, deu-se em 1616, no bairro da Passagem, mas, a partir de 1660, criou-se o novo centro urbano denominado de São Francisco.

Nele, traça-se a Praça da Matriz (atual Porto Rocha) e constrói-se o prédio da Câmara Municipal, entre 1661 e 1662. O poder religioso acompanha este deslocamento, e, em 1666, é criada pelo Vigário Bento de Figueiredo, a igreja Matriz Nossa Senhora da Assunção. No altar-mor foi colocada a imagem da padroeira de Cabo Frio, Nossa Senhora da Assunção – encomendada a Lisboa nos princípios da ereção e fundação da igreja, e que, sem dúvida, foi à devoção dos primeiros habitantes da cidade. Consta que esta imagem é uma das mais antigas do Brasil. À direita de quem entra na Igreja Matriz, há uma capela, erguida em 1731, onde há a imagem da Virgem Aparecida, que foi encontrada entre os penedos no mar de Arraial do Cabo, pelo pescador Domingos André Ribeiro, no ano de 1721. É feita de nogueira, e tem o comprimento de um palmo e três dedos. Há registros de inúmeros milagres feitos, pela Virgem Aparecida. O fato histórico da aparição está registrado no opúsculo“Verdadeira notícia do aparecimento da milagrosa imagem de Nossa Senhora da Conceição que se venera na Cidade de Cabo Frio”, de Alberto Lamego.

Alguns anos, após a construção da capela, a Câmara comunica ao Rei a falta de parâmetros exigidos pelo ritual romano, como também de retábulo e trono para exposição do Santíssimo Sacramento.

Em 27 de abril de 1738, D. João V, mandou os quatro parâmetros por intermédio do Provedor da Fazenda, determinando a este que fizesse um orçamento, que incluía ainda dois sinos.

Depois da deliberação do Conselho Ultramarino, tomada em sessão de 27 de junho de 1746, no dia 4 de agosto foi expedida a ordem Régia ao Governador do Rio de Janeiro, para que deferisse o pedido da comunidade.

Nos livros de óbitos do séc. XIX constam vários enterros nas covas da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, que se localizava na Igreja Matriz. Estes sepultamentos se efetuaram até o momento em que foi proibido tal feito no interior dos templos, durante o século XIX.

Durante anos, o Largo da Matriz recebia concentrações de romeiros que vinham venerar a imagem da Conceição Aparecida, agradecer pelos milagres e trazer promessas. Com a decadência da veneração à imagem da Virgem Aparecida, volta-se a cultuar a Padroeira, como tem acontecido até os dias atuais.

Em 1966, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, foi restaurada pelo professor Adail Bento Costa.